terça-feira, 10 de maio de 2016

Leão





Propenso a ser executivo do futebol, Leão lembra presente para Kalil e 'herança negativa' de Luxa

Técnico disse que Tardelli foi presente para Galo e grupo celeste provocou saída

 
    

 postado em 03/11/2015 08:00 / atualizado em 30/10/2015 14:12
Marcelo Sant'Anna/EM/D.A Press.

Emerson Leão tem a franqueza como uma de suas características marcantes. Em entrevista ao Superesportes, o treinador, com passagens por Atlético e Cruzeiro, não perdeu a sinceridade e conversou sobre diversos assuntos, polêmicos ou não. 

Sem rodeios, Leão relembrou a primeira passagem pelo Galo, e o veto à titularidade de Taffarel, em 1997. 

“Eu o tirei porque ele não estava bem preparado. Apresentei uma lista dos 20 gols que ele havia tomado, e perguntei em quais ele tinha falhado. Eram mais de 30%. Aí coloquei o Paulo César (Borges). Depois, o Taffarel se recuperou e voltou. Como treinador e ex-goleiro, eu não podia aceitar isso (muitas falhas). O Taffarel sabia disso. Ele voltou da Seleção Brasileira, com apresentação atrasada em uma semana, segundo o presidente com autorização do clube. Mas isso não era problema meu. Meu problema era dentro do gol. Ele não deixou de ser o Tafarrel, mas aprendeu uma lição”, disse. 

Campeão da Conmebol e da Copa Centenário pelo Atlético, Leão ficou um ano no Galo e demorou uma década para voltar. Em 2007, ele retornou em julho e conseguiu recuperar o clube no Brasileiro. Ao fim da temporada, mais uma vez, o treinador deixou o Alvinegro para comandar o Santos. 

“Com algumas coisas você se sente bem e se identifica, tanto com o seu trabalho, como com o torcedor. O Galo era feito por dificuldades. Mesmo assim, eu não posso me arrepender. Sempre tivemos conquistas ou ascensões muito grandes, com revelações”. 

Na última vez no banco de reservas atleticano, Leão viveu os primeiros passos da era Alexandre Kalil como presidente, em 2009. A conversa que teve com o ex-mandatário, quando foi assinar o contrato, é relembrada com detalhes pelo treinador. 

“O Kalil chegou para mim e disse: 'não tenho dinheiro, Leão. O seu salário não é muito e posso gastar 400 mil com o time'. Mas aí perdemos um jogo, perdemos o título e ele me disse: 'vamos parar porque não deu liga'. Ele continua meu amigo. Conversamos quando encontramos. Ele foi um presidente que elevou muito o moral do Galo”, afirmou o treinador, destacando uma “herança” deixada por ele para Kalil.

“Eu dei de presente para ele o Tardelli, que ainda descontou a dívida do Galo com o Flamengo. Ele soube evoluir e conquistar títulos. O meu relacionamento com ele (Kalil) foi ótimo, ele nunca interferiu em nada. Mas uma partida muda tudo. Recentemente, fui ao Rio de Janeiro a convite de um conselheiro ver o jogo do Galo. Conheço o novo presidente (Daniel Nepomuceno), que é uma pessoa boníssima”, completou. 

Tempo curto na Toca


Se acumula trabalhos no Atlético, Leão não teve o mesmo destino no Cruzeiro. Foram apenas 13 jogos, menos de três meses no cargo em 2004. 

"Você disse certo. Eu passei, não fiquei. O Cruzeiro tinha uma quantidade de jogadores que não iria dar certo comigo. Preferi chamar os irmãos (Perrella) e sair. Eles foram honrados e queriam aumentar o meu contrato por mais um ano. Mas eu não podia prejudicar o clube. Preferi ir embora”, destacou. 

Questionado se o horário dos treinos foi um dos problemas com o grupo, Leão não hesitou: “Verdade. O treino era às 8h30. Você sabe que horas o trabalhador comum acorda para trabalhar? Cinco da manhã. E nós não podíamos acordar para treinar às 8h30? Os jogadores estavam acostumados com outro método, levantar 10h30 da manhã. Por isso achei melhor sair”. 

Vanderlei Luxemburgo e Paulo César Gusmão, ex-auxiliar de Luxa, foram os antecessores de Leão na Toca da Raposa. “Não é problema meu quem passou antes e o que essa pessoa combinou. Todos os técnicos sabem que jogador faz “corpo mole” quando quer. Agora tem uns que aceitam e outros não. Por isso o mercado está assim. O técnico de futebol se tornou um cargo ridículo. Um campeonato ter 20 rodadas e 25 técnicos é inaceitável”. 

Seleção Brasileira 

Pecuarista e apaixonado por suas terras, Emerson Leão é dono de fazendas desde a década de 1970. De camarote, o treinador assiste à derrocada da CBF, afundada em um “mar de lama” conduzido pelo ex-presidente Ricardo Teixeira, e na mira das autoridades nas gestões de José Maria Marin (preso por suspeita de corrupção) e Marco Polo Del Nero, que não sai do país por medo de seguir o mesmo caminho do antecessor. 

Em 2001, Leão sentiu na pele as falhas administrativas da CBF. Depois de ser acionado para o lugar de Luxemburgo, ele ficou no cargo 10 jogos. A demissão ocorreu depois da Copa das Confederações, mas o técnico aproveitou para desfazer uma “lenda” de que ouviu a dispensa durante o voo, após a derrota para a Austrália durante torneio no Japão. 

“Não foi no avião. Quem conversou comigo foi o Antônio Lopes, autorizado pelo mesmo homem que me contratou, que não era homem (Ricardo Teixeira). Acabou a Copa dos Campeões, não ganhamos, e falei que meu time era aquele para a Copa. A demissão foi na lanchonete do aeroporto, não no avião. Ele(Ricardo Teixeira) deveria estar preso. Eu não faço acordo, eu trabalho. Se eu não estiver satisfeito, eu saio. Fiquei pouco tempo e ainda bem que não tive contato com esse homem”, avaliou. 

Sobre a goleada sofrida pela Seleção Brasileira diante da Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, Leão resume: “Se você é o máximo mandatário (CBF) e não vai bem, você faz parte dessa engrenagem (culpa pela derrota). Está na cara que escolheu errado. Por isso mereceu o castigo”. 

Recado 

Antes de desligar o telefone, Leão pediu para mandar um recado aos mineiros e falou sobre o que prerende para o futuro. 

“Avise que deixo um abraço aos amigos de BH, principalmente aos torcedores do Galo. Quem gosta de trabalhar, jamais vai falar nunca (voltar a ser técnico), ainda mais quem é apaixonado por futebol. Estou me preparando para ser diretor executivo”, finalizou. 

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